11 janeiro 2011

É, a música ainda tem seu valor

A Amy Winehouse fez um show no Rio de Janeiro e durou cerca de uma hora. Nesse pouco tempo, ela ainda saiu várias vezes do palco, deixou duas músicas completas cantadas na voz de um de seus músicos e ainda esqueceu algumas letras. Quem pagou pra ver isso certamente saiu puto. Têm suas razões.

Um show é o que? O músico mostra o que sabe fazer. Mostra as músicas que canta, toca e interpreta. A razão fundamental é a música. Deveria, mas nós sabemos que não é só isso, e já faz tempo que não é assim. Mas as pessoas não sabem ou se esqueceram disso. Eu gosto de ver o músico tocar. Eu gosto de perceber como aquelas músicas ficam ao vivo. Nenhum equipamento de som ou gravação conseguiu ainda salvar ou captar a sensação de um show.

Mas, além da música, há misancene. O jeito que o artista se move, fala, dança, bebe, os gestos. O jeito que o artista envia beijos pro público, envia palavrões também. Estamos chegando em Amy Winehouse. Primeiro, veio a música. Uma cantora com uma voz original. Boas composições. Basta ouvir o disco pra saber que valeria a pena assistir a um show dessa artista. Depois, descobrimos a personalidade, o personagem. Nos entopem de notícias sobre a vida pessoal do artista ( e olha que só fico nas manchetes, no final do dia tenho um grande saco de lixo cheio de manchetes pra jogar fora). Uma figura curiosamente auto-depreciativa do jeito que a galera adora. Quem assistiu ao show de Amy Winehouse no Rio de Janeiro viu esse personagem.

Hoje, todo mundo só comenta sobre a fala enrolada, o andar cambaleante de Amy. Reclamam do show. E vejam: reclamam porque queriam música! E se ela não fosse mais junkie? Se ela mudasse o jeito de vestir. Ficasse mais sóbria. Ainda haveria a música. Percebem? A música está acima da revista de celebridades. Acima da moda. É a música que importa, e não as entrevistas do Zeca Camargo no Fantástico. Ao mesmo tempo, uma constatação deprimente: a música foi lembrada quando doeu no bolso o preço do ingresso.