14 setembro 2009

Microseboides em tempos de gripe suína

Em meio a essa neura de lavar as mãos a todo momento para evitar a nova gripe, me deu vontade de escrever algo sobre meus métodos de higiene em banheiros públicos. Me lembrei que já havia certa vez escrito algo sobre isso. Não costumo republicar textos aqui, mas já que tô meio sem tempo, em um corrimento danado, tudo bem. Espero que eu contribua de alguma forma com alguns leitores. Esse texto foi escrito em 2006, postado originalmente no meu antigo blog, O folhetim
Guerra e paz (a minha versão)

Certas coisas você não pode pensar muito. É como entrar em água fria. Porque se você matutar demais, periga ir cavando um buraco sem fim. E quanto mais pensa e se entrelaça nas divagações, fica mais difícil de sair das profundezas da cuca pensante. Às vezes eu me envolvo em jornadas intrínsecas e quixotescas em que eu sou o meu único herói e, talvez, inimigo. A última foi a saga do banheiro. Um dia no trabalho senti vontade de fazer xixi. Fui até o WC e depois de tirar a água do joelho, naturalmente como sempre faço, lavei minhas mãos. Mas pensei - e nesse momento o leão da Metro Goldwin Mayer já tinha rugido e a aventurava começava - que não adiantava nada o esforço de ter lavado as mãos, se quando segurasse novamente na maçaneta os microseboides do último sujeito que foi ao banheiro estivessem grudados lá. Logo imaginei essas criaturazinhas espenduradas como se praticassem esportes radicais no metal da maçaneta. Alpinismo, tiroleza, essas coisas. E é claro, os microseboides (vamos chamá-los assim, bactéria não soa legal) são aventureiros e tão logo vislumbrem outra superfície já tão pulando em grupo.
Eu até poderia acabar com essa história toda se desencanasse imediatamente. Mas não. Catei a pá e fui cavucar o solo pedregoso do meu pensamento. O dilema era desenvolver um método para evitar os microseboides de outrens em minhas mãos.

Bom, se a porta do banheiro não tem maçaneta, o aconselhável é usar o cotovelo ou dar uma de corpo - como se faz no futebol - para abri-la. Assim, estaríamos livres dos microseboides que por ventura estivessem ali alojados. Este fato já o livra de tomar a atitude pós-porta com maçaneta, que é lavar as mãos antes de fazer o xixi.
Depois de asseguradamente livre de microseboides dos outros nas mãos, está liberado pra fazer o que tem de fazer, sem o risco de transportar microseboides para o território dos seus próprios microseboides - seria um fato semelhante ao Cavalo de Tróia. Depois de tudo feito, a descarga. Peraí, não vá metendo o mãozão! O trabalho inicial teria ido ao esgoto. O método que criei é acionar a válvula de descarga com o pé. Batizei isso de "Descarga Kung-fu". É simples, basta um pouco de equilíbrio e alongamento, logo você se acostuma.
O próximo passo é lavar a mão. E é agora que a aventura tem a sua verdadeira batalha, quando realmente os exércitos se encontram. Coloque a mão, sim, coloque com todos os dedos possíveis na torneira. Abra-a tranquilamente. Agora, munido de sabão e muita água ataque os microseboides alheios! Lave as mãos, esfregue os dedos. Sinta o frescor de uma pele livre de microseboides. Então, puxe o papel-toalha, seque a mão e com a mesma folha feche a torneira.
Bandeira recolhida, tropas alojadas é hora de deixar o território inimigo. Voltamos ao primeiro passo. Porta sem maçaneta, use os ombros, o cotovelo, o corpanzil que Deus lhe deu. Porta com maçaneta, esconda sua mão por sobre a camiseta e abra a porta ou ainda use o mesmo papel toalha para abrir, antes de jogar fora. Livre, liberdade. Esse é o sentimento que geralmente paira ao final de grandes guerras.
Ah, antes de ir embora. Queria ressaltar as possibilidades de paz. E a paz nesse caso só seria possível se todos nós utilizássemos táticas de guerra para evitar os microseboides. Fica então, a questão, será a paz fruto da guerra? Pense e, por favor, lave as mãos.



Microseboides vistos em microscópio