08 novembro 2010

Sem título

A gente vive na era do sem. Todo mundo é sem alguma coisa. Bom, uma coisa todo mundo tem: a falta de algo. Existem  mais além dos sem terra, dos sem teto e dos sem comida. È fácil enumerá-los, tem sem emprego, sem salário, sem carro, sem moto, sem cabelo, sem beleza, enfim, a lista é longa e sem graça, sem fim e sem necessidade. O que eu acho mais engraçado disso tudo é que lado a lado da necessidade existe a oferta. Capitalismo, meu caro (expressão fora de moda essa, não?). Dia desses eu assistia a um programa americano sobre pessoas americanas e sua busca por beleza. Uma espécie de ‘reality show’ em uma clínica de cirurgia plástica. Na prateleira do supermercado tá lá, tem todo tipo de comida gordurosa, bacon, sanduíches, refrigerantes. Tudo pra engordar o porco. Ao mesmo tempo, é oferecido o conserto do estrago. Clínicas de cirurgia plástica. È incrivelmente nojento assistir o sujeito socar um canudo na pança da gorda e sugar de lá banha, a mais gordurosa e adiposa banha. Depois ainda tem conserto de boca e conserto de bunda, com o chamado “brazilian lift” que nas palavras do médico iria deixar a tribufu com “os bumbuns das praias brasileiras”. Que cultura podre! Mas enfim, aqui no Brasil a coisa caminha pra mesma esquizofrenia estética. A velhice - ter rugas e cabelos brancos - não é aceita. Eu quero é ficar velhinho e ver como eu serei velhinho. Que mal há nisso? Por que é feio? Feio são as velhas plastificadas, esticadas. Todos vão passar a vida buscando coisas supérfluas. A cultura marca os parâmetros: o bonito, o bom, o saboroso. É preciso ter para poder ser. Um bando de gente sem nada na cabeça.