28 fevereiro 2009

Como encerrar contas (big boobs bancários)

As técnicas de telemarketing usadas para impedir um consumidor de cancelar qualquer serviço não me pegam mais. Enquanto o robozinho humano com sotaque de paulista dispara frases como: “senhor, mas por que deseja cancelar, senhor” ou “o plano do senhor é um dos melhores, podemos ainda dar um desconto de 0,1%, senhor”, dou uma de retardado e digo a mesma coisa repetidamente: quero cancelar. Quero cancelar. Quero cancelar. Acho que eles pensam que estão tratando com algum esquizofrênico.

Tenho a capacidade de negar até mesmo quando o atendente do BOB's tenta aumentar o potencial calórico do meu pedido. “Com mais 1 real o senhor acrescenta um bacon, senhor?”. Não. Certa vez, ao encerrar minha assinatura de tv a cabo, fui com a faca entre os dentes. “Ah, mas por que o senhor quer cancelar a assinatura?”. Sem deixar brecha, emendei: “Não tenho mais TV”. Acabou, matei o cara ali.
Dia desses me ligaram e ofereceram um cartão de crédito. Quando eu senti que o cara começou a tarefa de insistir, eu falei: “só tenho um cartão, quando menos a gente tiver melhor. Quanto menos a gente trabalhar com banco, melhor. Não quero mais. Não quero mais e é de jeito nenhum”.
Existem técnicas meio terroristas, de afronta total. Essas podem aniquilar completamente qualquer ação, mas se pegar um cara sem noção, pode render uma discussão e um maior gasto dos neurônios em uma tarefa que realmente não merece tamanho desperdício de energia. Certa vez, quando o tio Gentil morava lá em casa, em uma bela manhã de domingo fomos abordados mais uma vez por evangélicos tentando vender revistinhas, daquelas com títulos parecidos com algo como: “Vinde” ou “Renascei”. Quando o tio Gentil - um sujeito sem papas na língua - disse “ah, deixa que eu resolvo isso”, fui atrás pra aprender a técnica. Eram duas meninas, realmente com sorrisos forçadamente angelicais. Ele não titubeou. “Aqui nessa casa somos todos comunistas. Nem acreditamos em Deus e nem vamos acreditar”. Posso até dizer que metade era praticamente verdade, quer dizer, a parte dos comunistas e que a não ser ele, todos rezavam antes de dormir. Resultado: elas foram embora mudas. Nunca mais voltaram. Acho que a casa ficou marcada.
Mas semanas atrás eu fui surpreendido por uma técnica nova. Nunca antes executada, principalmente, em um banco. A missão era encerrar uma conta. Peguei a senha e consegui um canto para aguardar minha vez. Nesse momento, uma atendente passa e pergunta a cada um o que precisa, o que quer, para adiantar o serviço. Era uma mulher de uns 40 anos, loira, de formas cheias que agradariam os renascentistas em cheio. Sorridente, ela pergunta, “e você?”. Digo, “quero encerrar minha conta”. Poxa, aí é que a técnica foi acionada.
Imaginem a cena em slow motion. A atendente aumenta a envergadura do sorriso. Levanta o braço. Em sua mão, vejo uma caneta. O braço vai, vai. Vai subindo até a altura do torax. O que? Ela tá enfiando a caneta dentro da blusa? A mesma blusa que exibe dois melões consideráveis? Ela tá coçando os melões? E enquanto coça diz com um sorriso maroto: “ah, mas por que você vai encerrar a conta?”. Ao fundo, a trilha sonora varia entre Fox Lady mixada com Tomorrow Never Knows, para expressar certa confusão mental.
Após um segundo de silêncio, decreto, ainda chocado: e...eu não movimento essa conta... preciso encerrar. Ela faz um: “ahhhhh”, e sem deixar espaço para uma réplica, emendei com uma pergunta absolutamente séria, sobre a possibilidade de encerrar a conta em qualquer agência. Lembro que executei essa última tarefa coçando o queixo com a mão esquerda, com minha aliança de casado bem evidente. Por fim, encerrei a conta sem dificuldades e sem nenhuma outra tentativa de boicote.
Se você tem alguma dificuldade em encerrar o assunto com qualquer tipo de atendente que venha com oferendas e altenativas, saiba de uma coisa, você não pode ser bonzinho, nem racional. O melhor é dar uma de louco ou sincero de um jeito absurdo. Seguindo esse raciocínio, mal posso esperar pelo próximo telefonema oferecendo o cartão de assinante do posto de gasolina. Ainda quero falar com uma voz bem mansa, algo como:
“Amanhã viajo para o Nepal, vou para um mosteiro. Lá vou comer só grão de bico e me alimentar do sol. Não terei mais documento, nem telefone, nem cabelo e muito menos carro. Nunca mais volto. Não me ligue mais, mudarei de casa, de endereço e de nome. Me chamarei Luz radiante. Que Buda te ilumine”.
Desligarei, mas antes quero escutar como o robozinho de call center se sai dessa.


"eei, robozinho de call center.... passem cá...rarara"