09 janeiro 2009

O inimigo

O Superman não me engana. Com aquela capinha vermelha e a franjinha “pega rapaz”, tenho certeza que ele é um baita de um exibido. Um exibido que poderia ser chamado de Superego. O Superman quer tanto atenção que seu disfarce é justamente um sujeito bem medíocre, Clark Kent. Afinal, nem sua indentidade falsa poderia chamar mais a atenção, nem mesmo concorrer por essa atenção. Superman quer ser único. Ele quer salvar a Terra. Quer salvar todos os terráqueos. Seu pensamento é justificável, afinal, aqui ele é um ser muito mais evoluído. Normal que queira ter o planeta aos seus pés. Lex Luthor é seu inimigo. Lex Luthor também quer o planeta aos seus pés. Diz a história que os dois foram criados na mesma cidade, Pequenópolis (que depois na TV apareceu como Smallville). Eles tem muita coisa em comum. E um precisa acabar com o outro. Não há possibilidade de convivência pacífica. Na verdade, os dois são iguais. A luta dos dois é a mesma.
Brasil, década de 70. A oposição contra o regime militar envereda de vez pela opção da luta armada. Sequestros, guerrilha. Foi feito assim em Cuba, na Rússia. Poderia dar certo aqui também. Do outro lado, os militares não aceitavam qualquer tipo de manifestação contrária. O lado certo era o deles. E não me venham com ideologias comunistas. Qualquer livro vermelho era feito para ser queimado. Os militares eram ditadores, o lema era defender e impor suas verdades. Sempre. Voltemos a Cuba, China, Rússia. Lá, milhares, milhões de pessoas foram mortas porque não aceitaram a revolução comunista. Aos poucos, as próprias ditaduras se autodestruíram. Aqui, depois de um processo “lento e gradual”, a ditadura também acabou. A esquerda, os partidos com ideologia comunista surgiram. Ganharam espaço. Ocuparam cargos políticos. Sempre turrões. Sempre chamando quem pensa diferente de porco capitalista. De filhote da ditadura. Feito ditadores, querem impor suas verdades. Direta e esquerda. Eles têm muita coisa em comum. Na verdade, os dois são iguais. A luta sempre foi a mesma.
Superman x Lex Luthor, milicos sanguinários de direita x comunistas maquiavélicos de esquerda. São dois exemplos. Existem trocentos outros. EUA x URSS. Brasil x Argentina. FHC x Lula. Saddam x Dinastia Bush. Vasco x Flamengo. Donatela x Flora. A esposa traída x a amante solitária. Eu x você. Todos são farinhas do mesmo saco. Querem as mesmas coisas. Poder, território, amor, petróleo. Em toda guerra, todo conflito, lutamos contra nós mesmos. Todos os inimigos são extremamente idênticos. Mas são cegos. E não reconhecem a semelhança. Na verdade, não podem. Cada lado estipula o que causa ojeriza no outro. Feito isso, um precisa acabar com o outro. Não há possibilidade de convivência pacífica. Mesmo que na verdade, os dois sejam iguais. A luta é a mesma.
Judeus e palestinos são irmãos de sangue. Judeus e palestinos são extremamente idênticos. Até os velhos testamentos revelam que são todos filhos de Abraão. Até quando querem a mesma coisa, seja o que isso quer dizer, são parecidos. Não reconhecem a semelhança. Cada lado estipula o que causa ojeriza no outro. Não há possibilidade de convivência pacífica. A luta é a mesma. Uma luta idiota para preservar quem eles pensam que são. Guerras assim só acabam quando cada um dos lados for exterminado. Que se matem, então. Mas quem sabe um dia essas guerras nem comecem quando cada lado olhar no espelho e dizer: o inimigo sou eu.