19 julho 2011

Bambuí: volte sempre

Sujeito subia a serra de uma rua torta em Bambuí. E eu lia na rodoviária da cidade: volte sempre. Mas como voltar? Como voltar, se naquele dia eu queria fazer xixi e o banheiro fedia de um jeito insuportável. Muitas coisas são suportáveis antes de induzir ao vômito. O banheiro de Bambuí, não. O banheiro da rodoviária de Bambuí se transformou pra mim no mais tenebroso cartão de visitas de uma cidade. Em vez de um Cristo, um personagem menos santo me aguardava de braços abertos. Um toco. Um toró. Uma obra como muitos cidadãos bambuienses dizem. Como poderia caber tanto fedor em um objeto (?) de uns 20 centimetros? A ciência deveria estudar o poder de compactação de moléculas naquela merda. Vida apertada dessas moléculas. E a gente ainda reclama da saída do cinema lotado, do ônibus. Pior seria sair de um cinema lotado, a passos de tartaruga, e um sujeito fazer aquilo que vi em Bambuí lá no meio de toda a gente. É pior que incêndio. Inclusive, acho que deveria ter uma saída de emergência nesses casos. Quando a senhora gorda demorasse tanto para entrar e sair do banheiro apertado do ônibus, depois de despejar meio quilo daquelas moléculas acima citadas, uma alavanca deveria imediatamente avisar ao motorista: Para que fedeu! Uns minutos de ar fresco na estrada já melhorariam a 'mufunha' desconcertante. Mas no banheiro da rodoviária de Bambuí não havia ar. Não havia nada. Se o universo começou do nada, o nada era um banheiro sujo de Bambuí. Ali gases se contorciam em uma dança escorregadia de odores. Acredito que o perigo de combustão era constante. Quem diria que ali em minha frente no banheiro de uma cidade mineira, um protótipo da origem do universo se manifestava. E o ser que fez aquilo nem suspeitava ter criado uma miniatura do Big Bang. Uma Big Bosta. Pena que não tive capacidade pulmonar de aguentar aquilo dentro de mim. A visão era horripilante, mas o cheiro era o vencedor. Voltei pro ônibus e sentei na poltrona como se presenciasse o pré-tudo. Me sentia em lugar sem inferno, nem céu. Estava em Bambuí. E o sujeito subia aquela serra em zigue-zague, feito uma formiga. E o sujeito limpava a testa com um lenço. Há poucos minutos tinha cagado um universo.