21 agosto 2010

Estação ciclotímica: Walter Franco - Feito gente

Lá por volta de 1992 quando eu presenciava aquela história toda na música que chamaram de "grunge", um disco caiu em minhas mãos. Era "Revolver" do Walter Franco. Parece o nome do disco dos Beatles, mas é em português mesmo, e por que não? Logo de cara, a primeira música era cortante. Tudo nela era cortante. É a melhor definição que encontro. "Feito gente", diz Walter Franco antes de começar a música. Depois, a batida marcante precede um solo ríspido de guitarra. Ali eu já alargava minha medíocre noção de música, que naquele momento era absorver o que vinha de Seatle. Um corte. Em 1992, com 15 anos, eu ouvi uma música de um disco brasileiro de 1975 e fiquei embasbacado. Os acordes, os solos distorcidos, o clima sombrio. Tudo do grunge estava ali. Tudo volta, não é? Não que eu nunca tivesse ouvido nada mais velho. Mas certamente não imaginava que pudesse existir aquilo. Foi uma atualização de passado. Revolvendo. "Feito gente", pra mim, é o maior acerto de Walter Franco. E olha que ele tentava, arriscava muito.

Cortante é o jeito que ele canta os versos cortantes dessa música: Fui a faca e a ferida. Eu te amei como pude. Feito bicho que se espanta. Eu te amei como pude.

Walter Franco quase rasga a garganta pra cantar.

Em determinado momento, você percebe o andamendo da música alterar. Os instrumentos aceleram, o violão com as cordas de aço puxa todos os outros. Parece que vão disparar. Mas não. Param. A melodia volta, revolta. Os instrumentos juntos.

Essa música é antológica. É melhor ouvir.

Walter Franco - Feito Gente by Pablo Alcântara