09 março 2010

Chuva de peixes

Dia desses choveu na pequena cidade de Lajamanu, no norte da Austrália. Uma chuva de peixes. Centenas de pequenos peixes brancos caíram de densas nuvens de chuva. Muitos deles ainda estavam vivos. Não. Não é história de pescador, não. É verdade. Foi publicado no jornal britânico Telegraph. Eu li. Tem até fotos dos peixes recolhidos em baldes pelos moradores.

Chocou? Eu não. Pra mim, isso não é novidade. Graças ao Tio Gentil. Lá em Formiga, em Minas Gerais, nos idos dos anos 50, quando ele era um jovem curioso e sem ter muito o que fazer, Tio Gentil resolveu pescar no velho rio que ia sempre. Não deu peixe. Nada. Nem um lambari. Tio Gentil achou estranho. Lá sempre dava alguma coisa. Ficou mais um pouco. Insistiu. Matou várias minhocas por afogamento e decidiu ir embora. Na volta para casa, o inesperado: peixes caiam do céu. Choveu peixe naquele dia em Formiga. Se Tio Gentil fosse um sujeito religioso, poderia até dizer que Deus tinha ouvido seus pedidos. Mas esse não era o caso. Para Tio Gentil, aquilo era possível. Na natureza, há dessas coisas estranhas. E ele estava certo. Sempre esteve.

A matéria do jornal britânico informou ainda que meteorologistas do país disseram que os peixes foram sugados em uma tempestade antes de serem arremessados sobre a cidade de Lajamanu, a Formiga da Austrália. Um cara chamado Mark Kersemakers, do Escritório de Meteorologia Australiano, disse que os peixes podem até ter sido elevados a 15 mil metros de altura!

Não se pode sair dizendo por aí que alguém é mentiroso. Ainda mais quando a pessoa conta a mentira com toda a verdade possível. E se você não é capaz de provar o contrário, com vídeos e fotos sem manipulação de photoshop, fique quieto. A mentira é verdade até se prove o contrário. Mas, atenção, falo do mentiroso lúdico. O mentiroso Forrest Gump. Esses são verdadeiros injustiçados. Um contador de histórias é logo chamado de mentiroso. Quando coloca no papel e alguém edita e publica isso, um contador de histórias é chamado de escritor. Machado de Assis ou o Cony são grandes escritores, mas o Tio Gentil é um mentiroso? Não! Isso tá errado. O Tio Gentil é conhecido entre a gente como o cara das histórais fantásticas. Sujeito resolve chamar isso de mentira cabeluda, mas é maldade, é mentira de quem diz que é mentira. Pra você ter uma ideia, Tio Gentil presenciou partes de um enfermo espalhadas em um quarto de hospital, depois que este tomou um copo de leite e explodiu. Sim, o cara explodiu. “Tinha pé de um lado, mão de outro”, assim, Tio Gentil detalhava os membros expostos na parede como se fossem pernilongos esmagados. Vai desmentir? Como? Ele contou e contou com verdade em cada um dos detalhes.

Muita gente não se liga, mas histórias de tios e familiares ascendentes são ricas heranças. As mentiras sinceras do Tio Gentil são heranças. Nunca ganhei nada e provavelmente nem vou ganhar nenhuma grana ou bem material valioso de avô ou tio distante. Mas histórias, eu tenho um baú cheio. Se eu e nem ninguém nunca pôde provar a mentira na verdade do Tio Gentil, o melhor é crer. Tentei ser crente de Tio Gentil desde então. Sempre levando adiante sua palavra, seus ensinamentos embutidos em histórias contundentes. Passei muitas vezes por mentiroso. Aqui, qualquer semelhança com religião não é mera coincidência. Um crente vai crendo e não precisa de provas. Pois é, e se o cara tem uma prova? Se algum dia desses chove dos céus uma prova da verdade da crença cega?

Ao ler a notícia do jornal britânico eu vi a luz. Conheci a verdade das palavras de Tio Gentil. E ai de quem, agora, tenta dizer que são mentiras. E desavisado aquele que acredita que as histórias acabam. Elas não tem fim. Apenas ficam congeladas. A qualquer momento um novo capítulo ou epílogo pode ser escrito. Com a chuva de peixes na pequena cidade australiana de Lajamanu, a Formiga da Oceania, meu baú de histórias herdadas ficou mais valioso.