05 janeiro 2010

O oitavo pecado

O batismo. Não sei que diferença faz para um bebê ter a cabeça molhada por um padre. Ele encontra Deus ali? Certamente não. O batismo não vai salvar ninguém logo de cara. Apesar de passar a impressão que pode salvar aquele serzinho antes que ele comece a esculhambar com o mundo, antes mesmo dele puxar o tapete do colega no trabalho ou colocar dinheiro público dentro da meia. O pequeno começa a vida zerado. Pode iniciar a molecagem. É a pré-salvação. Depois a gente dá um jeito na salvação. Mas acho que a gente deveria saber antes o real motivo de passar pelo batismo. Porque perde o sentido. Nem os pais sabem direito também. Parece mesmo só um negócio de corrente, ter de repassar pra frente. “Meu pai me batizou, vou batizar meu filho”. Mas o ser humano tem essa mania doente de repassar as tradições. Repassar piada em email também. É normal esse negócio de repassar na história do homem. É um fator de sobrevivência. Mas o troço nem sempre é cristão. Nem sempre é coisa de um sujeito que, afinal, foi batizado. Adoro a história dos sete pecados capitais. Cada um tem o preferido, já viu? É mais ou menos como os Beatles. Mas, pessoalmente, acho que faltou acrescentar um pecado aí na lista. Eu ainda não tenho uma palavra que defina esse pecado. Confesso que estou com preguiça (ôpa) de procurar em um dicionário. Mas vou tentar explicar do que se trata. Lembram da época do vestibular? Então, raspar a cabeça do 'bicho' é um ritual dos mais tribais e bem comum nesse evento de transição na vida do jovem, não é? E o trote? O cara que passa um trote quer é descontar o que sofreu. “Poxa, se eu levei, porque esses outros aí vão se livrar?”. Aí é que aparece o negócio bem escroto que toda a humanidade faz: criar o constrangimento alheio. É isso que devia até ter nome. Isso devia ser um pecado capital. Parece ira, mas não é. Claro que não é nem gula, preguiça, luxúria, muito menos avareza, e não se enquadra na inveja e nem soberba. Forçar o constrangimento alheio é sacanagem da pura e, por mim, é um baita de um vicío de conduta do ser humano. É o oitavo pecado capital. Quer um exemplo? Dar nome feio aos filhos. Fora o fator mau gosto, muita gente quer mesmo é descontar a vergonha do próprio nome no moleque. Oficializa a alcunha. Um nome com poder de apelido, oficializado em cartório. Agamenon Júnior. Uma chacota com documento. Ou ainda mistura a feiura do nome da mãe e do pai, criando um monstro. Tem essa história de ficar perguntando pras pessoas se elas estão namorando? Todo mundo lá reunido em família, chega aquele primo distante, mais velho e manda: “Cresceu, hein? Já deve tá namoraaaaandoooo. E aí, tá namorando?”. Ou então o famoso: “Vai casar quando? Tá na hora, hein!”. Tem ainda o cortante: “Tá empregado? Onde? Paga bem?”. Sacanagem. Cantar parabéns pro colega na empresa também é sacanagem. É um troço vergonhoso demais, você não sabe onde enfia a cara, se sorri, se bate palma, se canta ou se olha pro relógio. Aí, quando chega o aniversário do outro, é o primeiro a puxar o coro. E aquela porra de cantar “com quem será? com quem será?”. Quem foi o imbecil que inventou isso? Nem tem graça aquela bosta! É contrangedor demais. Dia desses fui em um aniversário e um espírito de porco qualquer puxou esse coro. Detalhe: a aniversariante era uma menina de 5 anos. A pobrezinha desabou a chorar e espernear. Taí, babaca, você conseguiu: destruiu o aniversário da menina, carimbou nela uma vergonha pro resto da vida. Parabéns, você se eternizou e estará presente até quando ela estiver no sofá do terapeuta. Chega! É preciso livrar a humanidade do oitavo pecado. Não vai por bem? Vai por mal: você vai direto queimar no inferno. E não vai adiantar ter molhado a cabeça quando era bebê, não, hein?