19 setembro 2008

Propaganda de água


“Ela é refrescante. Límpida e líquida. É perfeita para aqueles momentos em que você está com sede! E além de tudo, ela é super-natural, afinal, você também não tomaria banho com qualquer outra bebida vendida por aí, não é?”

Estranho, né? Óbvio demais. Pois é, propaganda política às vezes soa como comercial de água. “Vou asfaltar a cidade inteira”, “todos poderão ir em um hospital”, “seu filho terá escola para estudar”... e eu pergunto, e daí? Me conta uma novidade. Isso tudo é obrigação. E alguns ainda querem a reeleição. “Eu quero outra chance pra fazer tudo o que tinha de ter feito, beleza?”.

E, pior mesmo, é gente que ainda defende candidato, veste camisa. A única justificativa deve ser conseguir um emprego comissionado depois. Acho que desde a primeira eleição para presidente após a ditadura, lá em 1989, as pessoas não defendem mais idéias e projetos de seus candidatos de um jeito mais apaixonado, como se fosse time de futebol. Eu me lembro que naquela época tinha uma empolgação geral. Era todo mundo ingênuo. Mas acho que anos de péssimos governos e de máscaras caindo jogaram nosso ímpeto político pro saco. Afinal, depois, o Brizola apoiou o Collor e o Lula fez pior: virou o Collor. Na época eu tinha 12 anos de idade e era levado pela minha irmã mais velha às reuniões do Partido Comunista do Brasil. Do que ficou dessa época foi a recordação de que encontraria muitos daquelas caras nas salas de aula anos depois. Aqueles comunistas barbudos seriam meus professores de história e geografia no colegial.

A verdade é que no dia da próxima eleição, você vai lá participar por que não tem outra opção. E ficamos assim. O candidato finge que se importa e a você finge que acredita nele. O voto é um peso. Uma chatura de domingo. É como aquelas visitas que os nossos pais faziam aos amigos no domingo e nos obrigavam a ir. “Vai ser uma vergonha se você não for. Que que eu vou dizer pra eles?”. Você era mais novo e não tinha autonomia nenhuma pra se rebelar da situação. O voto é isso. Era melhor ficar em casa e assistir a Armação Ilimitada, mas o domingo era desperdiçado com a visita anual aos amigos dos seus pais. Quando fiquei mais crescido e esperto, com capaciade pra argumentar comecei a me livrar dessas visitas. Mais uma vez, a sistuação é semelhante ao ato 'cívico' da votação. Justifico o quanto posso e, nas outras vezes, anulo.