09 outubro 2008

O Existencialismo e a franja de Roberto Leal



O sonho de Claudio era ter cabelos de Roberto Leal. Não era o sapateado lusitano que enfeitiçara o pequeno Claudinho quando tinha 4 anos. Eram as madeixas lusitanas. Loiras. Fios que pareciam ser fortes, densos. Fios de ouro. Preciosos. Parecia que nunca Roberto Leal ficaria calvo. Eram cabelos realmente fortes. Mas Claudinho tinha os cabelos pretos, enrolados.
"Mãe, põe meu cabelo igual o dele", pedia Claudinho, com a inocência infantil que acredita na possibilidade infinita das coisas. A inocência acabou antes mesmos dos fios pretos e enrolados de Claudinho. Frios pretos enrolados que Claudinho tinha e que Claudio nem tem mais. A inocência realmente se foi, caiu.
Mas para muitos Claudio se tornou um inocente de uma hora para outra.
"Meu Deus, será que ele não percebe que tá ridícula essa peruca?",
"Quem será que ele acha que engana?",
"Coitado, deve pensar que aquele cabelo é dele mesmo".
Agora, saibam vocês o motivo: a mesma franja de Roberto Leal estava ali em Claudio. Inclusive foi a partir dela que Claudio anunciou ao atendente da loja de perucas qual era o modelo que buscava: "quero uma que tenha a franja do Roberto Leal!".
Para quem não sabe, a franja de Roberto Leal é singular, tão forte que parece um anúncio, um outdoor pregado na testa. Um outdoor loiro que parece anunciar: Que cabelo! E lá se foi Claudio com o outdoor loiro na testa. Logo ele, um moreno meio índio.
"Bate o pé, bate o pé", canta e dança Claudio, vestindo apenas cueca, enquanto se arruma para sair de casa pela manhã.
Ele está feliz. Hoje sua testa decorada de fios loiros estampa uma realização pessoal.
"Não importa o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele", disse Jean-Paul Sartre.
Claudio se fez loiro. Em Claudio, o existencialismo é um estandarte dourado, fincado em uma franja loira. Irônico: o que os outros chamam de inocência, ele chama de maturidade. Pros outros ele virou um palhaço. Claudio se olha no espelho e diz para si: gajo, cê tá um 'broto'!